A Perigosa Relação do TDAH com Depressão e o Risco de Suicídio


Os pais de Mariana perceberam logo cedo que havia algo muito preocupante no comportamento da filha. Ela apresentava todos os sintomas de TDAH, que já eram bem conhecidos pela família, mas eles observaram que havia algo diferente e foram buscar um diagnóstico mais preciso. Eles também sabiam da incidência de comorbidades nos portadores de TDAH, inclusive depressão, com sintomas muito parecidos. Mariana apresentava alguns agravantes de comportamento, como a ansiedade exacerbada e extrema dificuldade em acompanhar as atividades escolares.

O diagnóstico de TDAH e depressão permitiu um tratamento precoce, o que foi decisivo para aliviar os sintomas e evitar consequências futuras, como o suicídio, a pior delas. Um tema difícil de abordar, mas absolutamente necessário para alertar pais e mães de portadores de TDAH e depressão porque eles andam juntos e ambos requerem tratamento específico.

A depressão pode ser desenvolvida a partir do transtorno básico do TDAH, ou ocorrer paralelamente, sendo que o paciente pode ter uma, duas ou mais comorbidades, com graus variados de intensidade. Uma pessoa com TDAH e depressão pode ter desenvolvido a depressão em função dos problemas que o TDAH vem acarretando em sua vida, ou pode ser que ela tenha as duas patologias de forma congênita e independente uma da outra.1

Estudos apontam que cerca de 30% das pessoas com TDAH têm depressão e em crianças com TDAH o risco de desenvolver depressão é três vezes maior do que nas crianças sem TDAH. Em comparação com crianças que só têm TDAH, as crianças com TDAH e depressão tendem a apresentar maior frequência de ansiedade e fobia social, além de maior comprometimento social e escolar.1

“Trinta por cento das pessoas com TDAH terão um episódio depressivo ou um transtorno de humor. Se você tem TDAH, seu risco de desenvolver depressão é quatro vezes maior do que para aqueles sem o transtorno. Isso é por causa dos fatores de risco específicos para o TDAH, incluindo diferenças nas substâncias químicas cerebrais e como você processa as emoções.”  Roberto Olivardia, PH.D,  Clinical Instructor of Psychology na Harvard Medical School.

Crianças e Adolescentes com depressão e TDAH

Quando a criança desenvolve um quadro depressivo em virtude do TDAH, a mudança no comportamento pode ser um sinal facilitador para o diagnóstico. Mas o desafio é bem maior quando uma criança com TDAH também apresenta a depressão congênita. Isso porque o comportamento exibido desde muito cedo acaba por confundir-se com a própria personalidade da criança, o que pode confundir pais e médicos, dificultando um diagnóstico mais preciso.1

É muito importante que os pais estejam alertas para o comportamento das crianças e adolescentes e procurem médicos especialistas para o diagnóstico e tratamento adequados ao TDAH e Depressão. Especialmente das meninas que comprovadamente estão em maior risco para esses transtornos. Pesquisa realizada pelo Department of Health Studies da University of Chicago, concluiu que:

“As crianças com TDAH entre 4 e 6 anos de idade tinham um risco muito maior de atender os critérios do DSM-IV para depressão ou distimia grave (razão de risco, 4,32) e por tentativa de suicídio (razão de risco de 3,60) até os 18 anos de idade em relação às crianças comparadas. Houveram variações acentuadas no risco para esses resultados entre crianças com TDAH, no entanto. Dentro do grupo de TDAH, as crianças com cada subtipo de TDAH estavam em risco, mas para diferentes resultados adversos. As meninas estavam em maior risco de depressão e tentativas de suicídio. A depressão materna e os problemas emocionais e comportamentais associados à criança entre os 4 e os 6 anos de idade previam depressão e comportamento suicida.” 2

Os pais devem estar atentos para os sinais de depressão acentuados, como embotamento, retraimento social extremo, recusa de ir à escola e ou outros ambientes, terror noturno, choro excessivo sem motivo aparente. Estados depressivos agudos surgidos brusca e repentinamente, sem motivo conhecido pelos pais, podem indicar a presença de alguma patologia e/ou abuso físico ou moral. Qualquer das hipóteses requer imediata intervenção e tratamento.3

Uma alerta para meninas e mulheres: o risco de suicídio é maior

De acordo com pesquisa4 publicada pela American Psychological Association meninas com TDAH são significativamente mais propensas a tentar o suicídio ou a se machucar quando jovens do que meninas que não têm TDAH.

O estudo concluiu que mulheres jovens diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade ainda quando meninas, particularmente do tipo com sinais precoces de impulsividade, eram três a quatro vezes mais propensas a tentar o suicídio e duas a três vezes mais propensas a se queixar do que mulheres jovens comparáveis em um grupo controle.

Adultos com TDAH e Depressão

Muitas pessoas chegam à idade adulta sem o diagnóstico do TDAH e só descobrem que são portadoras do transtorno quando os problemas se agravam, especialmente quando se somam aos sintomas da depressão. Esse diagnóstico tardio ainda acontece apesar de todos os estudos e da ampla divulgação da incidência de TDAH desde a infância e dos muitos casos de depressão e suicídio envolvendo principalmente adolescentes.

“Frequentemente vejo depressão em adultos cujo TDAH não foi reconhecido e tratado em sua juventude. Tendo sofrido tantos golpes à sua autoestima, eles aceitaram a ideia de que são preguiçosos e estúpidos - ou não bons o suficiente para ter sucesso social ou profissional.”  Yvonne Pennington, Ph.D., psicóloga especializada em TDAH em adultos.

A depressão é estimada em 2,7 vezes mais prevalente entre adultos com TDAH do que entre a população adulta em geral. Existem duas situações envolvendo a comorbidade:5

  1. TDAH e depressão primária ocorre em adultos com TDAH que se tornam deprimidos sem nenhuma razão óbvia - a condição ataca mesmo na ausência de circunstâncias ou eventos desagradáveis da vida. Conhecida como depressão primária, ela parece ser amplamente herdada e pode estar ligada à hipersensibilidade.
  2. TDAH e depressão secundária ocorre quando a depressão surge como uma consequência direta da frustração crônica e decepção de viver com TDAH sem tratamento ou mal gerido. Estima-se que 25% dos adultos com o distúrbio não receberam tratamento adequado para o TDAH. Esses casos de depressão são considerados secundários ao TDAH.

Para complicar o diagnóstico, os médicos podem confundir o TDAH com depressão. Diferenciar as condições pode ser difícil porque ambos os distúrbios trazem problemas de humor, esquecimento, incapacidade de concentração e falta de motivação. Existem, no entanto, distinções sutis entre os sintomas induzidos pelo TDAH e aqueles causados pela depressão.

Diagnóstico e Sintomas de TDAH e Depressão

Como são muitos os sintomas de depressão que se confundem com os de TDAH, o médico precisa de alta habilidade, experiência e conhecimento para fazer o diagnóstico diferencial. As queixas de irritabilidade, desatenção, desinteresse pela escola e baixo rendimento escolar podem levar ao diagnóstico de um ou de outro, ou de ambos.

Especialmente nas crianças, mas também nos adultos e adolescentes, os sintomas da depressão podem mascarar a existência ou coexistência do TDAH, e o inverso também pode ocorrer. Existem diferenças sutis entre os sintomas característicos do TDAH e os causados pela depressão:3

  • Emoções do TDAH podem causar alterações de humor, mas elas geralmente estão ligadas a contratempos específicos. Os sentimentos ruins tendem a ser transitórios. Mas os problemas de humor associados à depressão geralmente são difusos e crônicos, geralmente duram semanas ou meses.
  • Motivação é bem diferente no TDAH. Os portadores apresentam dificuldade de realizar qualquer coisa porque estão em apuros para decidir o que fazer primeiro. Com a depressão, o paciente é mais letárgico e por isso não pode iniciar qualquer atividade.
  • Dificuldades do sono no TDAH ocorrem durante o sono, porque a mente se recusa a desligar e continua adicionando coisas à lista de tarefas do dia seguinte. Em contraste, as pessoas que estão deprimidas tendem a adormecer prontamente, mas acordam repetidamente durante a noite e no início da manhã. A cada despertar, a mente está cheia de pensamentos negativos ou ansiosos.

Tratamentos são essenciais tanto para TDAH como para depressão

Todo tratamento, tanto do TDAH como de depressão, requer um diagnóstico prévio, feito por profissional de saúde especializado e apenas ele poderá indicar medicamentos e terapias. Especialmente nos casos de comorbidade com a depressão, porque esta pode levar ao suicídio e é urgente buscar ajuda médica.

“Eu não iria atrás de TDAH e depressão primária ao mesmo tempo. Trabalhe primeiro com a condição que cause maior prejuízo. Os problemas levantados pelo TDAH são reais, mas a depressão pode ser fatal.”  Lenard Adler, MD, diretor do programa de TDAH em adultos do NYU Langone Medical Center, em Nova York.

O objetivo de todos os tratamentos é reduzir a frequência e intensidade dos sintomas, visando aliviar o sofrimento e contribuir para a qualidade de vida. Mas sempre é bom ressaltar que o tratamento bem-sucedido requer que cada condição seja identificada e gerenciada para obter todo o alívio possível.

    Setembro 2019 / C-ANPROM/BR//1572