Como controlar a impulsividade e dominar suas emoções


Um, dois, três, quatro, cinco....mil. Era para ser uma conta até dez, bem devagar, para acalmar as emoções descontroladas. Mas Marina chegou ao mil em dois segundos e explodiu. Aconteceu muitas vezes com ela, no trabalho, no trânsito e em casa e as consequências de tanta impulsividade já chegaram a ser desastrosas. Por exemplo, o chefe fez uma crítica, ela respondeu meio atravessado e o emprego ficou por um fio. As crianças aprontaram uma boa arte, ela reagiu com agressividade desproporcional e a vida familiar quase virou uma guerra. Com dinheiro então, nem se fala. O cartão de crédito já estourou várias vezes e em outras ela fez compras por impulso e voltou para casa sem a lista essencial. Ela nunca pensa antes de agir e falar, e isso obviamente cria situações constrangedoras, muitas vezes incontornáveis. Se você chegou até aqui e se identificou com essas características, fique atento. A impulsividade ou mesmo o descontrole emocional, no adulto pode ser um sinal do Transtorno do Défcit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). Marina, por exemplo, seguiu o conselho de uma amiga que a alertou sobre seus comportamentos impulsivos, procurou um profissional de saúde e recebeu o diagnóstico de TDAH. Roberto Olivardia, Ph.D, psicólogo clínico no departamento de psiquiatria na Harvard Medical School, afirmou que "pessoas diagnosticadas com TDAH podem apresentar problemas para inibir comportamentos inadequados relacionados à forte emoção positiva ou negativa. O que pode levar uma hora para um não TDAH se acalmar, poderia levar o dia inteiro para alguém com TDAH. Parte disso é devido à dificuldade de reorientar a atenção para longe da forte emoção ". Mas ele também afirma que “o objetivo é honrar a si mesmo como um ser emocional, ao mesmo tempo trabalhando em experimentar, expressar e gerenciar essas emoções de forma saudável e produtiva”.¹ Esses e outros comportamentos comuns na vida de quem age por impulso e não domina as próprias emoções podem ser amenizados com algumas dicas importantes que se baseiam em três ideias essenciais: você pode administrar seu stress, criar estratégias para se controlar nas situações em que costuma perder o rumo e se apropriar das suas reações.² Para reduzir o stress você pode por exemplo: • Limitar as demandas e compromissos que assume; • Dormir o suficiente para relaxar; • Praticar meditação, yoga e exercícios físicos e de respiração. Aliás, assim que perceber que as coisas vão sair de controle, você deve respirar profundamente, isso altera de imediato as suas emoções e conforme se acalma você toma consciência do seu estado e passa a administrar as reações. O exercício físico regular reduz o excesso de energia e agressividade, acalma a mente e é um excelente repositor de hormônios e neuroquímicos. Muitas vezes até fazer uma caminhada, ou dar uma volta a pé no quarteirão já reduz a ansiedade. E por falar em ansiedade, se ela vier junto com depressão, busque ajuda profissional, porque nem tudo você pode resolver sem apoio. Reserve um tempo para você, tenha um hobby, leve o cachorro para passear na praça, dance nem que seja sozinho e com sua música preferida, vá ao jogo de futebol, tenha sempre uma conversa boa com os amigos. Tudo isso contribui para reduzir o stress e assim você aprende a assumir o controle de suas emoções. Entre as estratégias, você pode: • Evitar as situações que possam provocar um descontrole, • Ensaiar previamente como pretende reagir, se já sabe com o que vai ter que lidar. Mas se for inevitável e você sentir que a emoção vai dominar as suas palavras e atitudes, simplesmente saia de perto e se dê um tempo para retomar a conversa. Nesse intervalo, respirar fundo sempre ajuda a acalmar a mente. Quando recuperar o controle, se for o caso, admita que você se excedeu e mostre o que você pensa racionalmente. Contar com o apoio dos amigos e familiares pode ser de grande ajuda, por exemplo, pedindo que interfiram de forma positiva nos momentos mais críticos, apresentando a situação sob outras perspectivas. Eles também precisam estar conscientes de que a sua reação imediata pode ser mais forte do que o normal, mas que logo você vai se acalmar e avaliar o quadro com mais racionalidade. Ser dono das próprias reações não é tão simples assim, mas elas podem ser moderadas se você estiver consciente de que os sentimentos mudam, tanto os de euforia como os muito negativos. Principalmente, não se deixe prender pelo pânico de que tudo vai dar errado porque você imaginou uma situação bem pior do que a realidade. Assim você não se deixa levar por um, nem por outro, buscando o equilíbrio essencial para a tomada de decisões e o bom relacionamento. Aliás, ele pode ser bem melhor se você estiver mais atento ao sentimento do outro e o impacto que suas reações podem causar na vida de todos à sua volta, com reflexos nem sempre tão bons na sua, é claro. Enfim, procure separar seus sentimentos das suas ações e, se for preciso, busque um treinamento Mindfulness para obter uma ajuda mais efetiva. O Mindfulness é um estado de atenção plena, no qual a consciência é direcionada ao momento presente, de maneira intencional e sem julgamento. Estudos científicos comprovam os resultados positivos dessa prática, que inclui a meditação e atividades que estimulam sair do piloto automático.³ Quando você descobre as estratégias para contornar os sintomas da impulsividade e consequente descontrole emocional, a vida pode se tornar bem melhor em todos os aspectos. Quanto mais você ficar atento às suas reações e mais exercitar as estratégias de estar presente e consciente, mais apto estará para reagir com equilíbrio. Então poderá experimentar uma vida com menos conflitos e mais tranquilidade em todos os campos de relacionamento. E caso perceba que não consegue elaborar sozinho uma estratégia para vencer essas barreiras, busque a Terapia Cognitivo Comportamental, que pode ser de grande ajuda para estabelecer um plano de ação mais positivo.4

1. http://psychcentral.com/blog/archives/2014/02/27/coping-with-heightened-emotions-when-you-have-adhd/

2. http://www.additudemag.com/adhd/article/11124.html

3.Carson JW, Carson KM, Gil KM, Baucom DH. Mindfulness-based relationship enhancement. Behavior Therapy. 2004;35:471– 494.

4. http://www.tdah.org.br/br/artigos/textos/item/1076-o-tdah-no-adulto-e-o-processamento-das-emocoes.html

Julho/2020 C-ANPROM/BR//1996